Introdução Normas de edição

Normas de edição


Para a fixação do texto de Esaú e Jacó foram usados os seguintes testemunhos:

a) o manuscrito do romance, propriedade da Academia Brasileira de Letras, integrado por 829 fólios de papel almaço japonês, que medem 0,323cm por 0,218cm, escritos só de um lado em linhas alternadas. Os fólios estão numerados sequencialmente, encontrando-se a numeração com frequência rasurada. Alguns dos fólios têm uma dimensão superior à comum, em resultado da colagem de folhas de papel, idênticas às do fólio principal, à extremidade inferior deste. O documento tem ainda, intercaladas ao longo do texto, sete folhas sem numeração, com a indicação ULTIMO em corpo de letra grande, maiúscula, no meio do folio. Por baixo, em cada uma delas, a indicação «por / Machado de Assis / (da Academia Brasileira)»;

b) 1ª edição do romance, publicada por H. Garnier, Rio de Janeiro e Paris, 1904. O texto é antecedido da Advertência, ocupa 358 páginas, seguidas de 4 de índice. Os 121 capítulos estão numerados em romano, com excepção do primeiro – “Capítulo primeiro” -, têm título e começam sempre numa página em branco;

c) edição crítica do romance, elaborada em associação entre o Instituto Nacional do Livro e o Ministério da Educação e Cultura, com o patrocínio do Programa de Ação Cultural do Departamento de Assuntos Culturais, com o texto estabelecido pela Comissão Machado de Assis. Foi publicada pela editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, em 1975.

 

Para a fixação do texto de Memorial de Aires foram usados os seguintes testemunhos:

a) o manuscrito do romance, propriedade da Academia Brasileira de Letras, integrado por 468 fólios de papel almaço japonês, que medem 0,323cm por 0,218cm, escritos só de um lado em linhas alternadas. Os fólios estão numerados sequencialmente, encontrando-se a numeração com frequência rasurada. Alguns dos fólios têm uma dimensão superior à comum, em resultado da colagem de folhas de papel, idênticas às do fólio principal, à extremidade inferior deste. Do primeiro fólio consta o título, "Memorial de Ayres", e a data, "1907". Segue-se uma folha com as duas epígrafes, uma de Joham Zorro e outra de D. Denis, e a Advertência, que ocupa duas folhas, assinada "M. de A.". Depois, desta, uma folha com a data "1888", repetida no início da folha seguinte, e o texto.;

b) 1ª edição do romance, publicada por H. Garnier, Rio de Janeiro e Paris, 1908. O texto é antecedido de duas epígrafes e uma Advertência, e ocupa 273 páginas. Está organizado em entradas de diário;

c) edição crítica do romance, elaborada em associação entre o Instituto Nacional do Livro e o Ministério da Educação e Cultura, com o texto estabelecido pela Comissão Machado de Assis. Foi publicada pela editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, em 1977.

 

As edições críticas deste arquivo digital usaram como texto-base a 1ª edição de cada um dos textos, não se tendo considerado as 2ª edições dos romances, apesar de publicadas ainda em vida de Machado de Assis, por serem meras reedições das 1ªs, sem nenhuma alteração digna de nota, nem mesmo a correcção de alguns erros tipográficos que nas 1ªs existiam. Apenas em casos excepcionais o texto das 1ªs edições é corrigido, em regra com o apoio do manuscrito. Só em casos de erros óbvios, a correcção é da minha iniciativa. Todos eles são indicados, através de hiperligação onde se assinala a lição do manuscrito e da 1ª edição. A hiperligação abre uma janela que mostra todo o parágrafo em que se inclui o texto em que existe variação, aparecendo sublinhada a verde a lição do manuscrito, sublinhada a azul a lição da 1ª edição e sublinhado a amarelo a lição escolhida quando não coincida exactamente nem com a lição do manuscrito nem da 1ª edição. A divergência pode resultar de uma mera actualização gráfica, sendo facilmente perceptível em qual dos testemunhos se baseou a lição adoptada - uma vez que, a par desta, nos casos em que haja actualização gráfica, apenas aparecerá a lição rejeitada. Nos casos em que haja coincidência entre a lição escolhida e a de um dos testemunhos, a lição escolhida estará sublinhada na cor (verde ou azul) do testemunho escolhido. A ordem de apresentação das lições é sempre: manuscrito; 1ª edição.

Na edição genética, transcrevem-se os manuscritos, registando todos os acidentes de escrita que neles se encontram (tanto acrescentos como rasuras), e assinalam-se também as variantes encontradas na primeira edição. Pretende-se assim, nesta, registar o processo de escrita de Machado de Assis até ter chegado ao texto final, fixado na edição crítica. Ao lado da edição genética aparecerá a imagem da folha correspondente do manuscrito, procedimento também usado no separador correspondente à edição diplomática do manuscrito.

Os manuscritos são, como se disse, ambos propriedade da Academia Brasileira de Letras e disponibilizados on-line através do site desta instituição. Como se analisa mais detalhadamente no texto "Entre a crítica genética e a crítica literária, a propósito de uma edição eletrônica de Esaú e Jacó", publicado em Machado de Assis em Linha (abril de 2020, disponível em http://machadodeassis.fflch.usp.br), estes testemunhos agregam várias campanhas de escrita, podendo ser vistos como palimpsestos da escrita de Machado de Assis. São manuscritos em muito bom estado de conservação e muito legíveis.

Quase todas as páginas do manuscrito contêm incidentes redaccionais, visíveis tanto na transcrição como nas imagens que acompanham as edições dos manuscritos e as edições genéticas. São tanto casos de rasura, de acrescentos na entrelinha, superior ou inferior, como de substituições ou reordenamentos. Por vezes há mais do que uma emenda numa mesma palavra. Destacam-se, como macro-variantes a considerar entre o manuscrito e a 1ª edição, no caso de Esaú e Jacó, a alteração no título, que no manuscrito era ainda Último, e a fusão dos capítulos 115º ("A realidade") e 116º ("O mal") do manuscrito de Esaú e Jacó, que na 1ª edição corresponde apenas ao capítulo 115º, "A realidade".

Se as edições do manuscrito, da 1ª edição e as edições genéticas são diplomáticas, reproduzindo-se cada um dos testemunhos sem intervenção editorial, convém clarificar as normas que são seguidas nas edições críticas de cada um dos textos.

Critério das edições críticas

A ortografia é actualizada para a norma padrão do português do Brasil actual, seguindo o Acordo Ortográfico de 1990. Assim por exemplo:

(a) emprego da pretónica e/ i (egual>igual; creança>criança; egreja>igreja; ceremônia>cerimônia). A alternância entre o manuscrito e a 1ª edição, em que o manuscrito tem uma forma mais actual, faz-me crer que as formas co-existiam no tempo de Machado, não havendo razão para manter uma forma que entretanto caiu em desuso, nem qualquer tipo de oscilação que causa ruído na leitura. Mesmo nos casos em que há concordância entre o manuscrito e a 1ª edição (deante, por exemplo), opto pela actualização;

(b) emprego do o/u pretónicos (ocurrencias>ocorrências, logar>lugar);

(c) emprego de e/ ei (arqueija>arqueja)

(d) emprego de o/ ou (poude>pôde);

(e) emprego de e/ i postónico (craneo>crânio);

(f) emprego de o/u postónico (magua>mágoa);

(g) a sequência éa que actualizo para ei (estréas>estreias; assembléa>assembleia; boléa>boleia; Odysséa>Odisseia);

(h) as letras dobradas, com excepção de rr e ss, que representam, ainda hoje, fonemas diferentes de r e s. Apesar de a Comissão Machado de Assis não o fazer com os grupos nn, mm, cc, porque "podem representar fonemas ou segmentos fônicos distintos", acrescentado que “enquanto (…) o complexo problema de saber a realidade da pronúncia de semelhantes letras consonânticas dobradas não for resolvido, é de toda a prudência não proceder à simplificação, salvo fundamento concreto que a justifique numa dada palavra” (1975: 37), fiel ao princípio de actualização e na medida em que as edições diplomáticas do manuscrito e da 1ª, bem como a edição genética permitem ver a redacção contemporânea de Machado de Assis, opto pela simplificação. Faço isso mesmo em connosco>conosco, por exemplo, uma vez que é essa a grafia actual no Brasil;

(i) o emprego do j e do g: estranjeiro>estrangeiro; geito>jeito

(k) o emprego do s e do x: dextra>destra; exquisitona>esquisitona; extranho>estranho; expectaculo>espetáculo;

(l) o emprego de ss, c, ç e s: cançado>cansado; cançasso>cansaço; ancioso>ansioso; obcessões>obsessões; ricasso>ricaço; suisso>suiço; cassava>casava; inverosimil>inverossímil; sanguesugas>sanguessugas; sobresalto>sobressalto; resentir-se>ressentir-se; outrosim>outrossim

(m) o grupo pt que é simplificado quando o p é mudo: assumpto>assunto;

(n) o ditongo eo / eu: Romeo>Romeu;

(o) o grupo cd que é simplificado para d, quando o c é mudo: anecdota>anedota

(p) o ditongo am ou ão: Christovam>Cristóvão

(q) o grupo gn que é simplificado para n quando o g é mudo: signal>sinal; assignar>assinar

(r) o emprego do s e z: cazar>casar; atraz>atrás; quizesse>quisesse; supuz>supus; naturalisação>naturalização; visinhança>vizinhança

(s) os grupo ph, th e rh, que são representados como f, t ou r: Morpheu>Morfeu; hipothese>hipótese; rheumatismo>reumatismo;

(t) o k, que passa a c ou qu, consoante o caso: polkas>polcas; nickeis>níqueis;

(u) o y, substituído por i: Ayres>Aires; gymnastica>ginástica; Eschylo>Ésquilo; olygarchias>oligarquias;

(v) o ch com valor de q ou c: bronchite>bronquite; Eschylo>Ésquilo; Achilles>Aquiles; monarchia>monarquia; almanach>almanaque; technico>técnico; patriarcha>patriarca; Christovam>Cristóvão; chronicas>crônicas; archaica>arcaica;

(w) actualizo também a terminação uis/ui das segunda e terceira pessoas do singular do presente do indicativo dos verbos da 1ª e 3ª conjugações quando apareça como aes/ae e ues/ue: atrae> atrai; conclues>concluis; conclue>conclui

(x) passo o s inicial de algumas palavras a es, porque há alternância entre o manuscrito e a 1ª edição, indicando que não correspondem a qualquer diferença fonética. Faço isto em eslavos, espírita e espírito; espiritismo; estritamente.

Na medida em que actualizo o texto para a norma actual no Brasil, faço o mesmo com as consoantes mudas, mesmo nos casos em que o manuscrito e a 1ª edição as incluem, uma vez que não é provável que, na época em que Machado escreveu, não fossem já mudas. Assim, por exemplo, passo facto>fato, calumniador>caluniador. Aliás, Pangloss, pseudónimo de Alcindo Guanabara, em artigo publicado em A Imprensa, periódico do Rio de Janeiro, entre 1898 e 1914, afirma: "Para não dizer só bem dessa nova obra [Memorial de Aires] do nosso grande e incontestado mestre, direi que ella é escrita na tal ortographia da Academia, com a qual, definitivamente, não me conformo. O que resultou desse proposito ou dessa obrigação, em que se achou o presidente da Academia, de honrar a sua deliberação, escrevendo a primeira obra que publicou na ortographia decretada por ella, foi que nessa obra não ha ortographia nenhuma. Quero crêr que a revisão traisse a intenção do autor, mas o certo é que na mesma pagina encontram-se palavras graphadas pelo antigo e pelo moderno. / Pelo moderno, não ha consoante dobrada, não ha consoante muda, não ha o H médio: pois, á pagina 105, ha grafados como se seguem, as seguintes palavras: annos, exacto e chrisma. As palavras affecto, affectação, aspecto são sempre escriptas com o C, que não sôa; signal é escripto com G; nem sempre o S entre duas vogaes é substituído pelo Z: a palavra presente é escripta com S. Sahir é escripto sem o H; mas ahi é escripto com H. Emfim, uma barafunda que só o Medeiros e Albuquerque seria capaz de entender" (apud Guimarães, 2012: 408). Actualizar será, então, o melhor critério e não desvirtuará o texto de Machado de Assis. Nos casos em que o Novo Acordo Ortográfico admite dupla grafia (aspecto / aspeto, por exemplo) e em que Machado alterna, usa-se a forma maioritariamente usada por Machado de Assis.

Actualizo ainda todas as formas de receiar, convalecer, Jesu-Christo, ênfasis, todas as formas de comprimento com o sentido de cumprimento, tudo formas que já não estão dicionarizadas, mesmo que isso implique diferenças fonéticas quanto ao que Machado escrevia. Mais uma vez, as alterações são anotadas através de link para o testemunho com forma divergente da fixada.

Mantenho, no entanto, a grafia nos nomes próprios que podem manter várias formas actualmente – assim, por exemplo, Baptista, Mello -, bem como as formas calefrio, derribada, diferençar, ensossa, intonação, ortiga, cálix, mui – que assim se conservam em dicionário ainda hoje. Nos nomes próprios, actualizo, no entanto, Stael>Staël; Eschylo>Ésquilo; Abrahão>Abraão; Smyrna>Esmirna; Ayres>Aires e Gouvéa>Gouveia, Andarahy>Andaraí; Parahyba>Paraíba; Nicterohy>Niterói, Westphalia>Vestfália, de acordo com as normas de transcrição que uso.

A acentuação gráfica será a da norma do português do Brasil actual. Como na edição crítica da Comissão Machado de Assis, optei por, na terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos ter e vir, fazer a acentuação como actualmente em vigor, isto é, têm e vêm, apesar de o manuscrito estabelecer tem e vem. De acordo com o indicado pela referida Comissão, “na época, não havia critério no emprego da notação em tais casos, ora acentuando-se o plural, ora não, e até o singular” (1975: 39), o que parece indicar a irrelevância da falta de acentuação da 3ª pessoa do plural. Também no que diz aos pretéritos perfeitos do indicativo, prescindo da acentuação que, em Portugal, é facultativa, uma vez que no Brasil a vogal é aberta e não precisa de acentuação.

Já nos casos de crase (a ou à), a edição crítica da Comissão Machado de Assis respeita o texto base, alterado em poucos casos pela lição do manuscrito, no que respeita ao emprego do acento gráfico. Na presente edição crítica, incluo o acento gráfico em todas estas situações. O que significa que altero, por exemplo, sem que assim esteja na 1ª ou no manuscrito, em Esaú e Jacó: (i) na advertência: "salvo se queria obrigar a leitura dos seis"; 1º capítulo: "E ambos pararam a distância"; capt. 32: "Estas eram muitas e de feição diversa, desde a alegria até a melancolia, enterramentos e recepções diplomáticas, uma braçada de folhas secas, que lhe pareciam verdes agora"; Capt. 95: "Se a via, olhava muito para ela, detinha-se a distância, à porta de uma casa".

Mantive o fixado na 1ª edição quanto ao emprego de maiúsculas/minúsculas iniciais, com excepção dos casos em que a norma gráfica actual impõe a utilização de minúscula, como nos meses ou estações do ano e nos dias da semana.

Desdobrei as abreviaturas – dom, dona, são, senhor, sua excelência, vossa excelência.

Conservo o grupo ou na palavra cousa e dous, porque é constante tanto no manuscrito como na 1ª edição e estas formas são ainda aceites nos dicionários actuais. John Gledson, que editou as crónicas de Machado de Assis, optou no entanto por actualizar também este grupo consonântico, considerando que a manutenção desta grafia não representa necessariamente "as intenções de Machado, literárias ou outras", acrescentando que "usar 'cousa', 'dous' etc. pode dar uma patina meio falsa de 'antiguidade' para textos que, por razões legítimas, estamos apresentando 'limpos' e simples, em roupagem moderna, para leitores modernos" (2020: 114). Sílvia Eleutério afirma que estas formas (dous, cousas) seriam "mais prestigiosas no tempo de Machado", mas que a pronúncia já seria oi (2020: 177).

Conservo também quási, também por ser constante nos testemunhos de que me sirvo, e ser uma palavra dicionarizada. Mas peor passa a pior, por semelhança com creados > criados, suportado pela opção da 1ª edição. Também não mantenho peior, ainda que exista no manuscrito e na 1ª, porque aparece apenas em ocorrências isoladas. Regularizo, então, para pior, mantendo link para as ocorrências de peior.

Passo joven a jovem, uma vez que, de acordo com Sílvio de Almeida (1913: 12), há, na época em que Machado escreve, muito poucos substantivos terminados por n, sendo, os que existem, "de feitura puramente erudita: alúmen, cânon, éden, hífen, Prócion, cerúmen".

Quanto à pontuação, mantenho a pontuação do autor, com excepção de casos que seriam hoje considerados erros óbvios: entre sujeito e predicado; entre verbo e complemento directo. Noto, no entanto, que Irene Moutinho e Sílvia Eleutério, editoras da correspondência de Machado, referem no nº de abril de 2020 da Revista Machado de Assis em linha que mantêm a vírgula entre o sujeito e o predicado, uma vez que “ela funcionava como uma respiração da frase, que você pode notar, alias, em todos os autores dessa época, não é uma coisa do Machado, é uma coisa corrente”. No mesmo sentido, Alvacyr Pedrinha, em Homenagem a Manuel Bandeira (1989: 59), afirma também que essa pontuação (vírgula entre sujeito e predicado) é praticada por Machado e Alencar e abonada por Martins de Aguiar, que a reconhece como forma de marcar uma pausa que dá ênfase ao sujeito: "na linguagem escrita, para essa pausa, só temos um recurso, o da vírgula. Só os gramáticos não vêm isso”. Se é certo que a generalização de uma pontuação baseada na morfossintaxe se tenha generalizado apenas no século XX (Diego, 2020: 135), na medida em que introdução de vírgulas nos casos referidos pode ser confundida com um erro, opto por normalizar esta pontuação. Já o caso das conjunções que estão separadas por vírgulas do resto da frase a que pertencem (p.e. “mas, logo depois advertiram (...)”), uma vez que se trata de um traço constante na escrita machadiana, opto por mantê-las - ainda que possam ser consideradas erradas actualmente - p.e., "Assim que, não foi por ciúme (...)". Em qualquer dos casos, nas transcrições do manuscrito, da 1ª edição e na edição genética, pode ser vista a pontuação utilizada por Machado de Assis nos testemunhos, sendo também marcadas como diferenças,  na genética, as diferenças de pontuação que existam entre o manuscrito e a 1ª edição, mesmo se se podem considerar diferenças não substantivas. Uma vez que na edição digital não há constrangimentos de espaço, optei por assinalar todas as diferenças - com as excepções que assinalo abaixo.

Na transcrição do manuscrito, no entanto, quando existe uma vírgula depois de uma palavra riscada, embora a vírgula não esteja riscada, não a transcrevo, uma vez que a intenção de Machado não poderia ser a de deixar duas vírgulas.

De acordo com o Ciberdúvidas (https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/ainda-sobre-por-que-no-brasil-e-o-porque-em-portugal/35804, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/pelourinho/o-modismo-do-por-que-em-vez-de-porque/2142, consultado a 4 de Maio de 2023), no Brasil, utiliza-se por que em vez de porque nas frases interrogativas, estando porque reservado à conjugação causal. É a regra que aqui sigo, apesar de não ser a seguida na 1ª edição. No mesmo sentido, actualizo todos os demais casos de palavras que aparecem separadas nos testemunhos, mas que, de acordo com a normal actual, deveriam ser juntas - p.e., se não> senão, sempre que tenha função de conjunção adversativa.

Não marco como variante da 1ª edição relativamente ao manuscrito os casos de erros tipográficos claros da 1ª edição – p.e. qne em vez de que, ou cnriquecer em vez de enriquecer. Não aparecerão também na edição genética, mas a sua ocorrência pode ser vista na edição que reflecte a 1ª edição. Assim, não aparecem como variantes na edição crítica, tal como não há notas quanto às diferenças de pontuação entre os dois testemunhos, que estarão assinaladas na edição genética.

Altero a numeração por extenso do primeiro capítulo de Esaú e Jacó para numeração romana, sem assinalar esse facto, por uma razão de uniformidade com os demais capítulos.

Note-se que tanto na 1ª edição como na edição crítica, para evitar a paginação tal como existe no manuscrito e na edição genética, há quebras de linhas quando a página do manuscrito muda, pelo que pode haver quebras na continuidade do texto no écrã.

Quando, no testemunho, a última palavra não acaba no fólio em que começa, mas apenas no seguinte, na transcrição aparecerá na página em que começa, na íntegra.

No que pode ser considerado o aparato da edição crítica, a que se tem acesso através da palavra ou conjunto de palavras em que há variantes, a negrito no texto crítico, aparece primeiro a lição do manuscrito, seguida da da 1ª edição e da escolhida. Quando a do manuscrito e da 1ª edição coincidam, aparece apenas a do manuscrito, com os acidentes (entrelinhamentos, por exemplo) que caracterizarem essa escrita. Já quando a escolhida coincida com a do manuscrito, aparecerá antes da da 1ª edição. Saber-se-á se a rejeitada é a do manuscrito ou a da 1ª pela cor do sublinhado - verde quando é a do manuscrito, azul, quando se trate da da 1ª edição, cinzento quando as lições do manuscrito e da 1ª edição coincidam.

A diferença que consiste entre existir, ou não, um ponto final no fim do título do capítulo (sendo que o manuscrito oscila, e a 1ª tem sempre o ponto) não é apresentada na edição genética, que mostrará o que está no manuscrito. Parece-me uma opção tipográfica e editorial, com que Machado concordaria, mas em que apenas não foi sistemático no autógrafo.

Nas edições genéticas, é de notar a dificuldade de distinção, no manuscrito, de s/z e casos em que parece haver oscilação (tres/ trez). Reproduzo da forma como leio, mas a transcrição não está, naturalmente, livre de erro.

 

 

Referências

Almeida, Sílvio de. A sistematização ortográfica. Memória apresentada à Academia Paulista de Letras. S. Paulo: Tipografia Brasil – Rothschild & Co. 1913.

Assis, Machado de. Esaú e Jacob. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL (Comissão Machado de Assis). 1976 [1904].

Diego, Marcelo. "Entrevista com Irene Moutinho e Sílvia Eleutério". Machado de Assis em linha, vol. 13, nº 29, abril de 2020: 123-147 (disponível em https://www.scielo.br/j/mael/a/tBPtdnkz9xTyBbt8rX4Tkpd/?format=pdf&, consultado a 4 de Maio de 2023).

Guimarães, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis. O romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Edusp. Editora da Universidade de São Paulo. 2ª edição. 2012.

-----. "Entrevista com John Gledson". Machado de Assis em linha, vol. 13, nº 29, abril de 2020: 109-122 (disponível em https://www.scielo.br/j/mael/a/YqWSpdBfXmCzjMvBwZJprFs/?format=pdf&, consultado a 4 de Maio de 2023).

Pedrinha, Alvacyr. "Estudo das variantes em 'Não sei dançar' de Manuel Bandeira". Homenagem a Manuel Bandeira 1986-1988. Maximiano de Carvalho e Silva (Org.). Rio de Janeiro: Presença Edições. 1989: 55-65.

Projecto financiado pelo "Centro de Estudos Comparatistas, BPD, no âmbito do Projecto MORPHE - Texto e Memória, UID/ELT/00509/2013, e pela FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia, FSFRH/BPD/119071/2016   FCSH IELT PT UE_FSE FCT